quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Dodge Dart: O lendário nome está de volta

Existe uma instituição americana chamada policial de alfândega. É o tira que checa os passaportes, tem a prerrogativa de desconfiar de qualquer um e o poder de impedir que o visitante entre no país e retorne ao Brasil com as malas e bolsas abarrotadas de eletrônicos, cremes, tênis, e, claro, as camisetas juvenis da moda. Ramirez é um desses sujeitos. Ele me recebe no aeroporto de Miami com a expressão de quem está com a prestação da casa atrasada, pergunta meu destino e quer saber o que vou fazer em Austin, Texas. Dirigir um carro – é a resposta. Que carro?, pergunta com olhar fulminante. O novo Dodge Dart. “Por Deus! O Dart está de volta?” E Ramirez começa a falar dos muitos Dart que teve na juventude. “Garoto de sorte!”
Não me estendi nas explicações sobre o  novo carro para não correr o risco de ser deportado – e não trazer esta história na bagagem: a volta do Dart não significa que o Dart voltou. Do carro que fez Ramirez esquecer as contas a pagar por alguns instantes, só ficou o nome. E o nome, saberia em Austin, poderia ter sido Meta – de objetivo, alvo, sugestão dada por um instituto de pesquisa para batizar o primeiro Chrysler americano fabricado em conjunto com a Fiat italiana.
E teria sido Meta se alguém, dentro da Chrysler, não tivesse se lembrado de um nome mais representativo – e que estava engavetado, sem uso. Assim, a novidade passou a se chamar Dodge Dart, referência aos sedãs e cupês fabricados entre 1960 e 1976 nos Estados Unidos. No Brasil, o Dart foi montado de 1969 a 1981. “O nome ainda é reverenciado por milhares de fãs em todo o mundo e se encaixou como uma luva no novo carro”, diz Chad Robertson, do marketing da Dodge.

spinhos

O nome, é certo, inspira boas memórias. Mas o novo Dart carrega tanto de herança do passado quanto o VW New Beetle tem de Fusca: nada. Vejamos, portanto, o novo Dart de outro ângulo – o de um sedã racional e com boas soluções técnicas, resultado de um projeto bem arquitetado entre a Fiat e a Chrysler (os italianos se associaram com os americanos em 2009 e hoje têm o controle acionário da empresa).
A missão do carro é espinhosa: colocar a Chrysler na disputa pelo filão que mais cresce nos Estados Unidos, o de sedãs compactos (médios, para nós), que tem Honda Civic, Chevrolet Cruze e Hyundai Elantra como alguns dos representantes mais fortes. Desde o fim do Neon, em 2005, a Chrysler não participava desta festa. Pior, nem tinha plataforma que se adequase ao porte. E é aqui que entra a sinergia do grupo: a Fiat cedeu a plataforma C-evo, a mesma do Alfa Romeo Giulietta, e a base mecânica do hatch para os americanos – encarregados pelo desenho, pelo acabamento e pela adaptação da plataforma para abrigar o sedã. O resultado surgiu depois de 18 meses de desenvolvimento – tempo recorde para uma empresa que há três anos estava na beira de um abismo financeiro.
A C-evo se transformou em C-US Wide para abrigar o Dart. Em comparação ao Giulietta, o sedã americano é 30 cm mais longo, 5 cm mais largo e tem entre-eixos 7,6 cm maior. Coloque o novo Dart ao lado de um Civic, e o carro americano se sobressairá pelas dimensões. O ex-guitarrista e fã de Led Zeppelin, Mike Nicholas, é o cara que desenhou o Dart. “Procure no novo carro algo que remeta aos antigos Dart e você encontrará pouca coisa”, avisa.  Quase nada, para ser rigoroso. Friso da grade? Talvez.

Navalha

O novo Dart não foi criado para ser nostálgico, mas eficiente. E isso significa que Nicholas passou mais tempo quebrando a cabeça em cálculos aerodinâmicos que em buscar referências do passado para aplicar no desenho. “O desenho foi pensado para cortar o vento feito navalha, pois isso representa menor consumo de combustível, um dos grandes apelos de venda hoje nos Estados Unidos”, explica.
Sob a carroceria, foram aplicados painéis para formar fundo plano, como em um monoposto de competição, e isso melhora o escoamento do fluxo de ar. E na grade, as lâminas abrem em velocidade baixa para resfriamento do motor e se fecham em velocidade alta, para reduzir o arrasto aerodinâmico. A isso deu-se o nome de “defletor ativo”.
Dodge DartPode-se gostar ou não do desenho do novo Dart. Mas não se discute a harmonia das linhas: o carro tem começo, meio e fim dentro da mesma linguagem. E, no fim, o arremate são as lanternas envolventes inspiradas nas do Charger e que formam belo efeito à noite.
Por dentro, um carro americano, com bancos largos, aconchegantes e envolventes e uma composição de painel chamada “ilha flutuante” – a união entre o cluster e o módulo central por meio de um friso vermelho. As versões mais caras, como a Limited, que andamos, recebem quadro de instrumentos TFT, aquela fina película que substitui o plástico, e tela de 7 polegadas sensível ao toque. Há capricho na junção dos painéis internos e mais espaço que no Civic, o sedã que estamos usando como referência nesta reportagem.
O Dart pode ser personalizado ao gosto do freguês – estratégia inédita dentro da Chrysler. Pode-se escolher 14 cores externas, 12 internas e seis tipos de rodas, fora os kits que serão oferecidos pela Mopar, a preparadora da marca.

Independência

Em qualquer partilha, há perdas e ganhos. Se por um lado o Dart perdeu a tração traseira, por outro ganhou suspensão traseira independente do Giulietta, agora fabricado em alumínio. Parte do refinamento de rodagem do Dart vem daí – outra parte vem da bem calibrada direção elétrica.
O câmbio é uma precisa caixa manual de 6 marchas e o motor é um dos bons exemplos de downsizing: tem 1,4 litro de capacidade, mas auxiliado por um turbo de 1 bar e por um genial sistema de variação de válvulas (o MultiAir), gera 162 cv e 25,4 mkgf de torque, quase 2 kg a mais que o 2.4 TigerShark, o quatro cilindros Chrysler que equipará os Dart mais caros, incluindo a versão esportiva R/T.
Infelizmente, ainda não será desta vez que teremos o Fiat MultiAir no Brasil: os Dart que serão vendidos por aqui no fim do ano (e que estarão no Salão do Automóvel) virão com o 2.4 e transmissão Hyundai automática de 6 marchas.
Não sei se Ramirez, o tira da alfândega de Miami, aprovaria o novo Dart – provavelmente não. O carro não foi feito para reviver o passado da marca: o negócio da Chrysler, agora, é ser eficiente no futuro.

Hemi DartDardo envenenado

Em 1968, a Dodge construiu o Hemi Dart para provas de arrancada: um míssil de 435 cv nominais e 600 cv reais. O carro era exclusivo para pista, mas houve quem o botasse nos semáforos de rua. Menos de 100 foram fabricados em um único ano de produção.


Fonte: Caranddrive

Nenhum comentário:

Postar um comentário